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Irmã Plautilla Nelli |
Como é uma raridade encontrar mulheres que se destacam em atividades predominantemente ocupadas pelo sexo masculino, sempre que descubro uma mulher que faça parte de qualquer atividade com maioria exercida pelos varões, fico felicíssima e sinto tremenda vontade de partilhar com o mundo inteiro. E cá estou eu fazendo exatamente isso. Vasculhando meus favoritos, encontrei uma página com as obras de arte de uma certa Plautilla Nelli. Que nome curioso. De imediato, antes de abrir a página, não tinha identificado o gênero da pessoa em questão. Quando finalmente abri a página, que grata surpresa foi ver que se tratava de uma mulher. Plautilla não foi muito prolífera, mas o pouco que fez (ao menos que consegui encontrar), é simplesmente fantástico! Sem dúvida uma das melhores da arte renascentista!
Para expor uma pequena biografia desta mulher, começo apresentando seu nome, batizada como Pulisena Marguerita Nelli. Ela nasceu no século XVI, mais precisamente no ano de 1524, numa rica família da região de Florença, Itália. Seu pai era comerciante de tecidos e a família recebeu uma homengaem, uma rua que leva seu nome, a Via del canto de'Neli.
Pulisena entra para o convento dominicano de Santa Catarina de Sena em Florença, aos 14 anos, e adota o nome de Irmã Plautilla. Lá, teve uma vida espiritual e pôde desenvolver seu talento como pintora. Conta-se que foi influenciada por dois famosos dominicanos, Fra Bartolommeo e Girolamo Savonarola, sendo este último uma figura controversa, que chegou a ser excomungado pelo papa Alexandre VI e queimado em praça pública, sendo considerado herege.
No convento, a Irmã Plautilla e as demais freiras eram assistidas e administradas pelos irmãos dominicanos, os quais eram dirigidos pelo Savonarola. Ele incentivava a arte nos conventos femininos, como meio de espantar a preguiça, e obter belas artes religiosas e piedosas. Deste modo, esta época pode ser considerada um polo de freiras pintoras. Elas também mantinham a arte como modo de sobrevivência, pois recebiam encomendas dos mais abastados da cidade.
Ela foi priora do convento por três vezes. Também sua irmã era uma freira dominicana, a Irmã Petronilla, que chegou a escrever uma biografia de Savonarola.
A obra de Plautilla
Apesar de ser autodidata, Plautilla começou seus trabalhos como muitos artistas da época, copiando obras de outros artistas. Suas primeiras cópias foram de Agnolo Bronzino e de Andrea del Sarto. Sua principal fonte de inspiração vinha das cópias dos trabalhos de Fra Bartolommeo, muito próximo do estilo classicista, reforçada porém com as teorias artísticas de Savonarola. Fra Bartolomeo deixou seus esboços com seu pupilo, Fra Paolino, que por sua vez entregou à uma freira que pintava do Convento de Santa Catarina de Siena.
Seu trabalho e estilo se distingue daqueles que a influenciaram pelo grande sentimento e emoção que ela pintava nas expressões de seus retratados. As figuras chorosas eram retratadas com os olhos vermelhos, lágrimas escorrendo pelo rosto quando necessário. A maioria de seus quadros eram em grande escala, algo incomum para os trabalhos de mulheres, em especial para aquele período.
Plautilla é uma das únicas mulheres pintoras a ser mencionada no livro de Giorgio Vasari, "Lives of the Most Excellent Painters, Sculptors, and Architects" ("Vidas dos Excelentes Pintores, Escultores e Tradutores"). Seu trabalho é caracterizado pelo tema religioso, com retratos vívidos e emotivos nas faces de santos e santas. Plautilla, porém, nunca teve acesso a nenhum estudo formal de pintura e pela moral religiosa e social da época, além de suas "características femininas", ela foi proibida de estudar modelos nus.
Irmã Plautilla não produziu apenas quadros, mas também ilustrações para livros, desenhos e lentes decoradas. Seus quadros estão hoje em galerias como a Galleria degli Uffizi e em várias igrejas e conventos pela Itália. Seu grande quadro, A Última Ceia, um óleo sobre tela de 6,7 metros, é o primeiro na história da arte a ser pintado por uma mulher. A obra foi restaurada e é exibida no Museu de Santa Maria Novella, em Florença.
Seus quadros representam uma ousadia criativa sem precedentes para freiras pintoras da época, normalmente relegadas a criar miniaturas, tecidos ou esculturas em terracota e madeira. Ao criar e assinar este enorme quadro, Plautilla foi colocada em igualdade com seus contemporâneos, como Leonardo Da Vinci, Andrea del Sarto e Domenico Ghirlandaio.
É importante frisar que frisar que irmã Plautilla foi a primeira artista do Renascimento em Florença. E temos de admitir, que ela era realmente genial. Ou melhor, inspirada por Deus. Ela morreu aos 64 anos, em 1588.
Obras